Etapa 1
Almeida-Vale de Coelha-Fronteira com Espanha-Aldea del Obispo-Villar de Ciervo
Almeida-Vale de Coelha-Frontera del río Turones
Saímos de Almeida pelo Arrabalde de São Francisco. Alternam as paisagens abertas, cultivos com cereais, áreas de floresta, com pinheiros e outras espécies de coníferas. Vamos atravessando pequenos ribeiros, que apenas têm água em alguns meses do ano, e chegamos à estrada. Esta via asfaltada cruza o rio Seco e entra em Vale de Coelha.
Vale de Coelha. Conserva um pelourinho, uma coluna monumental que simboliza o poder de uma povoação na distribuição da justiça. Na Espanha chama-se "rollo jurisdicional". É um modelo simples, rematado com um colunelo que sustém uma bola.Provavelmente, data do século XV.
Pelourinho de Vale de Coelha.
Río Turones o ribeira dos Tourões. Este rio marca a fronteira entre Portugal e Espanha passa-se por uma ponte de pedra. É um exemplo de rio modesto, com, no entanto, um enorme valor para a conservação da natureza. Nele habitam espécies de peixes desaparecidas noutros rios de caudal permanente. Entre as árvores predominam os freixos-de-folhas-estreitas, junto com várias especies de salgueiros e até um ou outro amieiro. As aves tambémsãomuito diversas e podemos destacar o rouxinol-comum e o papa-figos.

Ponte internacional sobre a ribeira dos Tourões em Vale de Coelha.
Campo de Argañán. O nome desta comarca aparece, de forma repetida, num documento de 1376 como Campo de Alganán e em 1414 como “Canpos de Algañán e Valdeazava”. Há três hipóteses em disputa pela explicação do sonoro nome de Argañán: 1. Oriundo de argaña, “conjunto de filamentos da espiga” ou “erva daninha”; 2. Da suposta contracção ara-gañán [lavrador]. 3. De uma propriedade celto-romana, também hipotética, que se chamaria Arganus ou Arganius.
Aldea del Obispo. Em meados do século XIX, teve uma instância aduaneira, destacando-se principalmente no seu tráfego, para importação, peles bovinas, canas, fruta verde e casulos de seda; para exportação, o trigo e o centeio, a lã cardada e os tecidos de Béjar. A igreja paroquial foi erigida em adoração a São Sebastião e data dos séculos XVI e XVIII. A ermida do Calvário está localizada perto da entrada da rota de Portugal e completa uma praça larga, repleta de cruzes de pedra. Do outro lado da estrada, encontra-se conservada uma fonte com um grande tanque, também pétreo.

Calvário e Ermida do "Humilladero".
O Real Fuerte de la Concepción de Osuna. A sua origem transporta-nos à declaração de independência de Portugal contra o domínio espanhol, no final de 1640. A sua construção começou em 1663, a 8 de Dezembro, dia da Imaculada Concepção; no entanto, um ano depois, já concluído, foi parcialmente demolido pelos próprios espanhóis, para impedir que fosse utilizado pelos portugueses durante um possível ataque sobre Ciudad Rodrigo. Espanha reconheceu a independência de Portugal em 1668. Entre 1736 e 1762, após terem sido estudadas várias alternativas, são levadas a cabo as obras de reconstrução, de acordo com o projecto de Moreau. Em 1762, pouco depois do final da obra, as tropas espanholas atacam Almeida. Em 1810, o general inglês Craufurd ordenou a destruição selectiva do Forte, para evitar que fosse utilizado pelo exército francês durante o cerco a Almeida. Perdura ainda hoje a sua figura estrelada, auto-amputada, recentemente adaptada e inaugurada como Pousada Real.

Plano do Fuerte de la Concepción.
Aula Histórica do Real Fuerte de la Concepción. Na praça central de Aldea del Obispo, integrada na Rota de Fortificações de Fronteira (actualmente, encontra-se fechada a visitas, à espera de uma possível reabertura). Aqui, conhecemos os pormenores deste Forte, sem dúvida um dos melhores exemplos de arquitectura abaluartada. Contemplamos os planos e outros pormenores técnicos da obra, bem como a vida quotidiana das distintas divisões da guarnição.
Los Boliches de La Torre (Aldea del Obispo). Ficam próximas deste ponto da rota, em direcção a Villar de Ciervo e são, ao que parece, ruínas de uma torre defensiva, como uma atalaia sobre uma colina. É uma incógnita patrimonial. Não aparece na literatura sobre as fortificações da província, sendo, portanto, território por explorar pela investigação histórica. No entanto, forma parte do imaginário local que, por um lado, a associa com o Fuerte de la Concepción – algo que não parece provável, avaliando pelo tipo de materiais e aparelhos de um e outra obra – e, por outro lado, descreve um suposto passadiço entre esta torre e o Forte.

Los Boliches de la Torre.
La Garaballa e as Arribas do Águeda. Em Campo de Argañán, o rio Águeda começa a formar as suas arribas, que fazem parte do Parque Natural de Arribas do Douro. A partir da rota, consegue-se antecipar esses abismos e vislumbra-se uma pequena réplica nas alturas de La Garaballa, entre Villar de Ciervo e Aldea del Obispo: os vales profundos da Rivera de Dos Casas.A Garaballa, Garagalla ou Garbaya é um local ameno, sobranceiro, com encantadoras paisagens de densos carvalhais. Uma janela aberta para a biodiversidade.

Bolota de azinheira.
Villar de Ciervo. Antes de entrar em Villar de Ciervo, junto do cemitério, encontra-se a "Ermita del Humilladero", que possui a imagem de Jesús Nazareno.Este topónimo e o de Villar de la Yegua referir-se-iam a temas arqueológicos, bem a verrões vetões, até hoje desconhecidos na zona —salvo os de Gallegos de Argañán—, bem a estelas como a que foi achada na proximidade de Villar de la Yegua. O culto ao cervo era comum entre os povos lusitanos.Junto com a notável igreja de San Agustín, sólido templo do siglo XVI, destacam vários exemplos de arquitectura popular em granito. A Fuente Grande considera-se popularmente como romana.Junto da Praça, a presidir igreja e "ayuntamiento", inseridos na fachada de un bar, há dois relevos antigos, um com um escudo e outro com duas cabezas confrontadas e um cáliz no meio.

Relevos antigos inseridos numa fachada, Villar de Ciervo.
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